Por Ronilson de Sousa
Entre as
principais críticas direcionadas ao Programa de Transição, redigido por Leon
Trotsky, está a de que o mesmo teria uma análise catastrofista. Isso acontece,
sobretudo porque, em linhas gerais, o Trotsky, ao descrever a situação de crise
da época, considerava que as forças produtivas da
humanidade haviam deixado de crescer, que as novas invenções e os novos
progressos técnicos não conduziam a um crescimento da riqueza material, e que
sem vitória da revolução socialista no período histórico próximo, toda a
civilização humana estava ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe. Argumenta-se
contra essa análise de Trotsky falando que as crises no capitalismo são cíclicas
e que, depois desse período, tivemos o chamado “trinta gloriosos anos do
capitalismo”.
Em
primeiro lugar, a crítica realizada retira o Trotsky do seu contexto. Ele está
vendo está vendo o início da segunda guerra mundial (tem gente que não
considera a segunda guerra mundial, com todos os seus mortos, uma catástrofe).
Toda essa geração de revolucionários (Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Gramsci,
entre outros) já tinha visto a primeira guerra mundial (Trotsky, além da
primeira, viu a crise de 1929 e a segunda guerra mundial). Se pegarmos o imperialismo
de Lenin, é comum vermos ele falando estagnação e decomposição do capitalismo;
Rosa Luxemburgo falando em “socialismo ou barbárie”; O Manual de Economia
Política da URSS falando em “capitalismo agonizante”,
etc. Na minha avaliação, não há nenhum tipo
de catastrofismo na análise do Trotsky. Ele nunca disse que a queda do
capitalismo seria um processo natural. Ao contrário, considerava que “tal ideia
é simplesmente absurda” (1).
É importante ressaltar que as crises no capitalismo não são apenas cíclicas. O capitalismo, assim como os outros modos de produção anteriores, chega há uma certa etapa de seu desenvolvimento em que as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção existentes (2). De progressistas que eram, essas se apresentam como entraves. Nesse momento se abre uma época de revolução, mas não realiza a revolução. Uma época de revolução significa que estamos diante das condições objetivas que viabilizam a superação do modo de produção existente. No entanto, um tipo de relação social pode se manter um tempo depois, mesmo tendo se tornado obsoleto. O capitalismo sobrevive há mais de um século a tensões que ameaçam a sobrevivência da humanidade. Teve taxas de crescimento elavadas e desenvolvimento de forças produtivas, justamente, porque a guerra permite destruir e reconstruir. Sobreviveu a primeira guerra, veio a segunda, veio a corrida armamentista, etc. A humanidade paga um preço muito alto pela sobrevivência do capitalismo (3).
Nesse
sentido, essa perspectiva do programa de transição continua atual. De acordo
com István Mészáros (4) “o capitalismo enfrenta hoje uma profunda crise,
impossível de ser negada por mais tempo, mesmo por seus porta-vozes e
beneficiários”. Não se trata, apenas, de uma crise cíclica convencional, que
alguns até tentam explicar como uma “onda longa”. Essa crise supera os limites
historicamente conhecidos das crises cíclicas. Na análise de Mészáros (5), a
crise estrutural evidencia os limites estruturais do sistema do capital e
manifesta-se, entre outros aspectos, por meio da produção destrutiva (com a
diminuição da vida útil das mercadorias, a obsolescência programada, para
forçar o consumo de novas mercadorias, potencializando ainda mais o consumo de
matérias primas e energia) e da destruição produtiva, como a prática de guerra,
que é inerente ao imperialismo, abrindo a possibilidade para a reconstrução em
condições de lucratividade em patamares aceitáveis para o capital e no
estabelecimento de um complexo industrial-militar, cujas mercadorias precisam
ser substituídas, seja ou não utilizadas; no desemprego crônico ou desemprego
estrutural; na destruição ecológica generalizada, observada por toda parte.
Resgatando, para os dias atuais, um dilema expresso por Rosa Luxemburgo, no inicio do século XX: Socialismo ou Barbárie, Mészáros avalia que esse dilema adquiriu urgência dramática e se tivesse que modificar acrescentaria a “socialismo ou barbárie” a frase barbárie se tivermos sorte. O sistema do capital não tem mais nada a oferecer para a classe trabalhadora, a não ser ataques. Desse modo, o socialismo, hoje, é mais que um projeto, é uma necessidade.
Fontes:
(1) Leon Trotsky – O marxismo e a nossa época.
(2) Karl Marx – Contribuição à crítica da economia política.
(3) Valerio Arcary – Entrevista disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8DBwT0_GIEg
(4) István Mészáros – A crise estrutural do capital
(5) István Mészáros – O século XXI: socialismo ou barbárie?
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