Por Alan do Nascimento Viana* e Matheus Rodrigues**

Ao falar sobre homossexualidade nesse contexto, temos que levar em consideração que estamos nos referindo sobre uma micro cidade da região Norte da Bahia pela qual a população está enraizada em preceitos religiosos tradicionais. Tentaremos, ainda que brevemente, descrever a atual situação em Remanso, em que estamos diante de um sistema político tradicional no qual paira uma população conservadora e contraditória.

Entendemos por conservadora porque reside aspectos socioculturais enraizados no que diz respeito a uma cultura LGBTfóbica, sobretudo na forma que tratam cotidianamente os LGBTs. Para além disso, entendemos por contraditória, ao mesmo tempo que rejeitam Bolsonaro nas urnas (sendo um representante da LGBTfobia), não há reflexão sob as mínimas formulações políticas e suas consequências práticas.

Primeiro que, para entender Remanso e suas particularidades, é preciso conhecer todas as dimensões da vida social: economia, política, saúde, educação, cultura, por aí vai. Dessa forma, para entender a população LGBT e sua condição, temos que analisar dentro dessa esfera. 

Ser homossexual numa cidade pequena é desafiador por vários motivos. O primeiro está relacionado em se assumir ou não, pois assumir-se LGBT no interior é bem diferente da situação da cidade grande, ou seja, ao se assumir diante de uma sociedade conservadora é ir contra os dogmas cristãs enraizados, uma cultura machista e patriarcal ditada pela conformidade de uma sociedade sustentada na base da exploração e exclusão. Assim, é se colocar na desconstrução das imagens negativas e na construção das imagens positivas.

Para além disso, é estar sujeito à marginalização, às opressões e exclusões, o que acarreta uma série de problemas que circundam a vida dos nossos. A violência é, na maioria das vezes, iniciada em casa, pela própria família, que por conseguinte segue na escola e no mercado de trabalho – entendendo aqui um desemprego estrutural devido a uma economia subdesenvolvida e sem industrialização -, além do iminente risco de agressão física e moral na rua. Entendendo aqui, particularmente, um processo potencializado em relação à população trans, invisível ao Estado e submersa às piores violências possíveis.

O segundo desafio reside no fato de estar relacionado à desunião da própria comunidade, em que a falta de conhecimento sobre o que cerca os LGBTs, gera uma espécie de inferiorização e estigma. Observamos que, em cidades menores, a exemplo de São Raimundo Nonato, há movimentos, debates e acolhimento. Entendendo, também, a diversidade do movimento LGBT, orientado por diversas correntes políticas e teóricas. Sabendo que nem todas buscam, de fato, emancipação e uma luta efetiva contra a LGBTfobia.

Um terceiro desafio, e talvez o mais importante, é fazer com que o conhecimento sobre a questão de gênero e sexo chegue à população LGBT da nossa cidade, daí a importância de pensarmos a realização de encontros, debates e nos organizar, para que seja discutido as particularidades, que incluem os processos de identidade, relacionamentos, afetos, educação, saúde, exclusão e participação política.

Portanto, ao falar sobre a população LGBT remansense, temos que entender as implicações na questão social, econômica, política e cultural, seja como fonte de intolerância e opressão, seja como meio para expressar identidades, estilos de vida e sua própria liberdade.

Embora estejamos submetido às condições elencadas, precisamos nos organizar a fim de efetivar lutas contra as opressões que nos atingem cotidianamente e conquistar nossos direitos.

Lembrando sempre, LGBT tem classe. Nada sobre nós, sem nós!

* Estudante de História da UESPI
** Militante do PCB e Unidade Classista-BA