Morte de adolescente revolta moradores da Vila Clara, zona sul de SP
Foto da Record.


Por Matheus Rodrigues, militante do PCB e Unidade Classista da Bahia.

Analisando a escalada da violência policial em tempos de pandemia em SP, em que as populações periféricas são trucidadas pela repressão estatal, nos faz pensar a respeito os destacamentos de defesa da classe trabalhadora ante à sua própria eliminação.

O caso mais recentemente de Guilherme Guedes, desaparecido no dia 14 e encontrado morto no IML ontem (15), assassinado com um tiro na cabeça e na mão que tudo indica por um policial, nos coloca a pensar os mecanismos de defesa e enfrentamento contra o aparato estatal.

Primeiro é preciso destacar que temos o direito de nos defender. Ou seja, temos o direito à autodefesa, para preservar nossas vidas e dos nossos. A periferia sangra todos os dias com as armas do investimento estatal articulado para nos eliminar. João Pedro, Ághata e agora Guilherme…

Segundo, pensar a autodefesa dos marginalizados implica no redirecionamento político por parte dos setores dirigentes da classe trabalhadora. Trotsky já anunciava e denunciava o avanço do fascismo na Itália, quando os setores dirigentes da esquerda, com maior inserção na classe trabalhadora, negligenciaram os destacamentos de defesa contra o fascismo mesmo em profunda agitação política dos trabalhadores com ocupação em fábricas e nas ruas. Naquele momento se concretizava o fracasso estratégico da Terceira Internacional, condicionada à trágica formulação stalinista.

A escalada da violência policial e a repressão contra a população que se manifesta contra as opressões revela o caráter beligerante da classe dominante brasileira: disposta a levar até às últimas consequências a defesa dos seus privilégios e acumulação das suas riquezas. 

Sem tangenciar, a burguesia vê o fascismo como um dispositivo eficiente em amedrontar e eliminar os setores mais combativos da nossa classe. Não é recente as inúmeras ações por parte da classe dominante para eliminar qualquer alternativa de sociabilidade que não seja a do capital. Por diversos momentos, partidos de esquerda, como o PCB, foi posto à ilegalidade. A ditadura militar, ainda que não tivesse uma estética fascista, revelou ações autocráticas por vinte e um anos sobre a classe trabalhadora, executando lutadores e impedido-os de reivindicar. 

Se por um momento a população negra representava a força de trabalho e um produto central dentro do modelo de produção escravagista, na república foi descartada e marginalizada, sujeita às piores condições possíveis. As ações do Estado, através dos mecanismos de repressão, operava para garantir a ordem e eliminar indivíduos descartados, privados das mínimas condições de vida. Tal problema persiste até os nossos dias e se acirra em momentos como os de agora, de completa submissão por parte dos setores da esquerda mais inseridos na classe trabalhadora à política de pacto de classes com a burguesia.

Leon Trotsky nos faz refletir, tomando como um exemplo histórico o que nazifascismo representou para humanidade, o que não devemos fazer e para além disso, sugeriu apontamentos táticos fundamentais a fim de preparar a classe trabalhadora para os embates contra a classe dominante e seus grupos mais escusos.

Primeiro que não é legada aos liberais a tarefa de derrotar fascismo. Assinala que, “a luta contra o fascismo começa não na redação de um jornal liberal, mas na fábrica, e termina na rua.” Além disso, identifica que os burocratas e pelegos constituem células fundamentais do exército fascista. No mais, “os piquetes operários de greve são as células fundamentais do exército do proletariado. É de lá que é necessário partir”.

Nesse sentido, entende-se a cada ato a importância de “propagar a ideia da necessidade de criação de destacamentos operários de autodefesa”. Portanto, para traduzir-se na prática, formar onde for possível, “a começar pelas organizações de jovens”.

A unificação dos movimentos antifascistas, alinhados às manifestações antirracistas, constituem, hoje, a expressão mais organizadas contra os pelegos, as milícias, gangster e fascistas. Essa tarefa histórica, para Trotsky, só será efetivada caso venha ser conduzida de forma “sistemática, perseverante, infatigável e com um corajoso trabalho de agitação e organização, sempre ligado à experiência das próprias massas, [onde] é possível extirpar de sua consciência as tradições de docilidade e passividade.”

O sectarismo, assim como peleguismo, representa a falta de habilidade política e teórica no que tange às ações táticas a fim de derrotar os contrarrevolucionários e aumentar confiança da própria classe. Por fim, através desse conjunto de ações, pensadas a partir e pela da classe trabalhadora, será possível “desacreditar o fascismo aos olhos da pequena burguesia e abrir o caminho da conquista do poder pelo proletariado”.


A violência da polícia não nos intimidará. Cada corpo negro tombado pela violência estatal nutre a chama da rebeldia da revolução. Por Ághata, João Pedro e Guilherme. Presentes hoje e sempre!


Referências

Trotsky, Leon. Os piquetes operários, os destacamentos de defesa, a milícia operária e o armamento do proletariado (2017).

População se revolta após Guilherme sumir e aparecer morto por policial um dia depois.https://www.esquerdadiario.com.br/Populacao-se-revolta-apos-Guilherme-sumir-e-aparecer-morto-por-policial-um-dia-depois