imagem

 Minervino, de gravata borboleta.



Texto publicado no site do PCB*

Por Matheus Rodrigues, militante do PCB e da Unidade Classista-BA.

Em tempos de pandemia, em que somos instados a ocupar as ruas diante do genocídio por omissão e ação de um projeto fascista presidencial, dou início a esse texto homenageando duas figuras negras que estão na história e deram exemplo para o povo brasileiro na luta pela emancipação da classe trabalhadora.

O primeiro reserva seu lugar indiscutível na luta antirracista e pela emancipação da sociedade, cujo nome estampa um coletivo, é Minervino de Oliveira. Minervino foi militante do PCB, tendo sido eleito vereador no Rio de Janeiro em 1928. No ano seguinte, foi eleito secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e candidato pelo PCB pelo Bloco Operário Camponês, coadunando os interesses nacionais e da classe trabalhadora brasileira.

A segunda, coincidente também do Rio de Janeiro, é a vereadora do PSOL, Marielle Franco, sumariamente assassinada em março de 2018 por uma milícia da capital, por denunciar a atuação destas facções na exploração de moradores das comunidades e pela sua atuação orientada pelo socialismo na Câmara de Vereadores. Marielle, hoje, é símbolo internacional de luta. Uma mulher negra socialista, convicta dos seus ideais pelos quais lutou e foi executada.

O racismo no Brasil é implacável. Nós, negros, somos as principais vítimas da violência. Não à toa, os dados do Atlas da Violência apontam que 71,5% das vítimas assassinadas em 2018 foram negras. Nós, negros, representamos 54% da população brasileira, mas somos os principais alvos de uma violência estrutural, inclusive, bem articulada dentro do Estado, a fim de promover um genocídio através das suas forças repressivas.

No parlamento nacional brasileiro, representamos 17,8%. Nas prefeituras, 70% dos candidatos eleitos no primeiro turno foram brancos, ou seja, 30% do executivo municipal em 2016. Nas universidades brasileiras, somente 30% do quadro de professores são negros. Nas penitenciária, somos a extrema maioria, assim como a maior parte da população miserável. Não são necessários muitos dados para visualizar o racismo escancarado no Brasil, ainda que muitos acreditem ser velado.

O racismo desenvolve-se no Brasil numa síntese capitalista. Ou seja, forjou-se um sistema cuja lógica de exploração baseou-se na força de trabalho inicialmente indígena e posteriormente negra. Esse sistema de exploração denominado escravidão perdurou por 388 anos. Hoje, não denominamos escravidão, mas compreendemos como uma forma similar, mas que se apresenta através de uma superexploração da força de trabalho, lograda por longas jornadas, baixa remuneração e péssimas condições de condição de trabalho. Além, claro, de se engendrar através de uma economia capitalista orientada para atender os interesses imperialistas (das grandes potências capitalistas), em que o desemprego condicionou um processo intenso de exploração e marginalização da população negra, a principal atingida pelo desenvolvimento capitalista orientado pela burguesia.

Compreendendo a história que nos trouxe até aqui, entendemos os múltiplos fatores desencadeados nesse processo histórico-econômico e social, bem como as raízes do racismo e da marginalização da população negra, que se evidencia também pela falta de representatividade em vários espaços sociais.

Nesse sentido, faz-se importante homenagear intelectuais e figuras políticas negras que marcaram nome na história, assim como é preciso forjar-se na luta no intuito de se organizar contra todas as formas de exploração e opressão que se apresentam articuladas nessa sociedade de classes.
Minervino e Marielle são exemplos de lideranças a serem seguidos e que mostraram sua força através de uma batalha antirracista que nos atinge diretamente todos os dias. Uma força que apavorou a burguesia e seus grupos escusos, como são as milícias hoje no Rio de Janeiro, com forte ligação com a família Bolsonaro.

O assassinato de George Floyd por um policial supremacista branco nos EUA reacendeu em plena pandemia a fúria da população negra. Milhares de pessoas saíram às ruas conscientes da violência policial e o genocídio em curso por parte do Estado. As manifestações antirracistas no centro do imperialismo influenciaram milhares de protestos no restante do planeta, infelizmente chegando ao Brasil após os recentes assassinatos de duas crianças, João Pedro no Rio de Janeiro e de Miguel Otávio em Recife.

Nos EUA, a morte de George Floyd foi o estopim para o povo preto, mesmo diante da pandemia e da forte repressão estatal norte-americana, o que não impediu o povo de tomar as ruas e exigir justiça pela execução.

O fim do racismo é inconcebível sem pensarmos o papel do dirigente negro na luta pela emancipação da humanidade. Se o racismo é inexorável para o desenvolvimento do capitalismo, não podemos tergiversar quanto à estratégia para derrotá-lo: temos de superar essa sociedade de classes, destruindo o sistema capitalista que a sustenta.

Como podemos notar pelo desenvolvimento histórico, não há espaço para a conciliação e nem para recortes ou “soluções” de cunho individualista, a fim de anunciar novas formas de inclusão (como o empreendedorismo, “black Money” etc.) que não passam de subterfúgios para dividir a classe e fraturar uma ação coletiva e coerente que deve ser mediada por uma teoria revolucionária, alinhada a um movimento internacional e em conjunto com os demais explorados e rejeitados.

Diagnosticada até então pelo velho barbudo há pelo menos 150 anos, quando já denunciava a escravidão nos EUA, em que “o trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro”, o racismo mostra suas raízes profundas em deslegitimar e eliminar negros e negras que se colocam contra a sua hegemonia e funcionamento. Quando não opera por meio da truculência, coopta, como já mencionamos anteriormente, através de mecanismos liberais e individualistas, com falsas soluções, que não passam de ideologia.
Ser dirigente negro na luta de classes é, como disse Angela Davis, “não aceitar mais as coisas que não podemos mudar, mas mudar as coisas que não podemos aceitar”.

O movimento antirracista deve colocar-se em movimento reivindicando os líderes, como Malcolm X, Samora Machel, Fred Hampton, assim por diante, que contribuíram para cumprir uma tarefa heroica e necessária contra a nossa exploração. Promovendo a unicidade entre luta antirracista, as lutas contra as opressões e a luta pela revolução. O papel do dirigente negro é assim organizar a luta antirracista de forma consequente, unificada, atrelando as lutas mais imediatas das comunidades às lutas mais gerais pela emancipação humana. Sem retroceder nenhum passo, sem naturalizar qualquer tipo de opressão nas fileiras do movimento revolucionária.

Os dias não serão os mesmos daqui em diante. Nós, negros e negras, de forma organizada e com uma teoria revolucionária, devemos nos colocar diante das tarefas mais urgentes desse país em conformidade com inúmeras lutas internacionais, acabar com o racismo e lutar pelo fim do capitalismo na construção de uma sociedade socialista.

*encurtador.com.br/TV259